Jornal de Negócios por C-Studio

O futuro instala-se no Alentejo data-uk-cover

"Inteligência Artifical vai permitir análise do cliente"

A aliança estratégica entre a KPMG e a tecnologia de inteligência artificial da Rhino.ai significa redução de custos, de software e de manutenção de TI para os clientes. No futuro, a IA vai gerar mais negócio, garante Rui Gonçalves, partner e head of Technology Consulting da KPMG em Portugal.


14 mai 2024

As tecnologias de Inteligência Artificial (IA) vão permitir chegar a uma “hiperpersonalização nas ofertas de produtos e envolvimento do cliente”, observa, em entrevista ao Negócios, Rui Gonçalves, partner e head of Technology Consulting da KPMG em Portugal. O responsável elencou as vantagens da aliança estratégica entre os serviços e as soluções tecnológicas providenciadas pela KPMG e a tecnologia de inteligência artificial da Rhino.ai. E garante que o uso da IA pode ser “o fator determinante para gerar mais negócio, ao mesmo tempo em que atende expetativas do cliente para produtos e serviços personalizados”.

Qual é o significado do anúncio da aliança estratégica entre a KPMG e a Rhino.ai e que impacto pode ter no mercado e na oferta da KPMG?

Muitos dos nossos clientes estão sob pressão para dar resposta a um contexto económico mais exigente, que os obriga a direcionar prioridades para iniciativas de redução de custos e de aumento da eficiência. Mas ao mesmo tempo, são também pressionados pelo mercado para adotarem novas tecnologias emergentes e para continuar a usar a transformação digital para se modernizarem e dar resposta aos seus clientes, fornecedores e parceiros mais exigentes. Ignorar as tecnologias digitais emergentes é um risco que poderá levar rapidamente à obsolescência, e por esta razão vemos temas como a IA generativa, os sensores, os robotics, a realidade aumentada, o metaverso ou o low-code e o no-code a consolidar-se como elementos fundamentais das agendas de transformação de negócio com tecnologia de muitas empresas.

O “elefante na sala” são os chamados sistemas legados, assentes em tecnologia mais antiga, muitas vezes desatualizados, desenvolvidos usando linguagens de programação, arquiteturas e tecnologias desatualizadas, sem suporte, difíceis e caros de manter e podem não ter a flexibilidade e a escalabilidade necessárias para responder às necessidades dos negócios modernos digitais. Estimamos que das tecnologias utilizadas atualmente pelas organizações, cerca de 35% dependem totalmente destes sistemas, e 30% incluem uma combinação de sistemas legados mais antigos e tecnologias mais modernas.

Estes sistemas são uma das principais causas da “dívida tecnológica”, sendo os principais inibidores dos programas de transformação digital e a sua modernização é fundamental, mas é demorada e tem riscos e custos elevados.

O que é diferenciador na tecnologia da Rhino.ai?

A tecnologia da Rhino.ai usa IA generativa, modelos multimodais e análise linguística para automatizar e reduzir o esforço de migração de aplicações e workflows de tecnologias antigas para aplicações modernas como low-code (Outsystems, ServiceNow, Appian ou Microsoft Power Platform).

Os serviços que a KPMG desenvolve, alavancados na tecnologia da Rhino.ai, permitem aos nossos clientes reduzir os custos de hardware, software e manutenção de TI, e simultaneamente aproveitar os recursos tecnológicos modernos fornecidos não apenas para a aplicação, mas também para maior transparência, controlo, conformidade e segurança.

Os resultados dos pilotos e projetos que já desenvolvemos em Portugal e nos EUA são muito animadores sobre o potencial e apontam para economias de 52% e 87% de tempo e custos na execução de um programa de migração digital.

Nasser Sattar, Chairman da KPMG Portugal

Sendo esta uma aliança focada na integração da tecnologia de inteligência artificial da Rhino.ai nos serviços e soluções de tecnologia da KPMG, que importância atribuem à IA nos negócios?

Entendemos que o potencial vai muito além das utilizações mais conhecidas e popularizadas por aplicações como o ChatGPT, em que vemos a IA generativa como forma de interagir com grandes volumes de dados para criar (e gerar) conteúdos e dados sintéticos.

Estamos a trabalhar com muitos clientes para incorporar a IA generativa nos processos de negócio, permitindo níveis de automatização inteligente mais sofisticados e eficientes. Neste sentido, a IA generativa combinada com outras tecnologias e emparelhada com IA preditiva para tarefas como análise de sentimento e análise do cliente pode levar à hiperpersonalização nas ofertas de produtos e envolvimento do cliente. Assente na disrupção dos modelos atuais, isso pode ser o fator determinante para gerar mais negócio, ao mesmo tempo em que atende expetativas do cliente para produtos e serviços personalizados.

Este poderá ser o valor mais relevante da IA, não como uma aplicação discreta e pontual, mas sim como uma componente estrutural e habilitadora dos dados e das iniciativas de transformação digital, permitindo implementar modelos operativos mais eficientes e até criar modelos de negócio diferenciadores.

A KPMG Portugal irá, em conjunto com a KPMG EUA, ser responsável pela dinamização desta aliança à escala global. Qual a importância desta evolução para a KPMG no nosso país?

Há algum tempo que a KPMG em Portugal e a KPMG dos EUA trabalham conjuntamente em várias iniciativas relacionadas com a transformação de negócio com tecnologia. Em concreto, criámos há cerca de dois anos em Portugal uma área específica com uma equipa de consultores de tecnologia dedicados a projetos de transformação digital para clientes do setor da banca sediados no Estados Unidos.

A parceria com a Rhino.ai resultou dessa colaboração e neste momento estamos a desenvolver conjuntamente alguns projetos em clientes, e a trabalhar com a Rhino.ai na evolução dos seus modelos de IA. A equipa portuguesa é parte do modelo de entrega global desses serviços que estão já a ser escalados para outros clientes noutras geografias.

O negócio e a oferta de serviços de transformação com tecnologia da KPMG em Portugal cresceu significativamente nos últimos anos, sendo uma área de negócio relevante para a nossa firma com uma equipa constituída atualmente por cerca de 400 consultores e metade das nossas receitas a serem geradas em clientes internacionais. No último ano, estivemos envolvidos em projetos com tecnologias emergentes em mais de 20 países como EUA, Bahrain, Arábia Saudita, França, Luxemburgo, Reino Unido e Singapura.

Baseado na sua experiência com as empresas e organizações em Portugal, qual é a sua avaliação sobre a forma como é encarada a nova geração de tecnologias de inteligência artificial?

Em Portugal, tal como noutras geografias, a IA (a reboque da IA generativa) entrou nas agendas dos gestores e dos negócios de forma tempestiva, sendo atualmente um “tema quente” amplamente debatido e escrutinado. E também aqui estamos a assistir a muitas empresas (umas de forma mais estrutural do que outras) a investir em pilotos e projetos para tentar capitalizar o potencial de criação de valor (com mais ou menos sucesso). Os casos que conhecemos que estão a ter mais impacto e a gerar mais resultados tangíveis são os que conseguem incorporar IA nos processos de negócio, adequando a estratégia e a arquitetura de dados, o modelo operativo, a literacia e a definição de como alavancar com confiança o poder da IA e do machine learning no ciclo de vida dos dados e informação nas organizações.

Estamos a acompanhar alguns clientes em Portugal com resultados muito interessantes em que a utilização da IA generativa está a ser focada na capacitação das pessoas, libertando-as de tarefas de pouco valor acrescentado e dando-lhe mais ferramentas para poderem gerar mais resultados.